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sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

DICA DE VIAGEM: Cânions e trilhas combinam com o friozinho em Aparados da Serra, no Rio Grande do Sul




No Sul do Brasil, Rio Grande do Sul e Santa Catarina compartilham uma fronteira que guarda atrações singulares: estão lá o maior conjunto de cânions do relevo brasileiro e também as temperaturas mais baixas do país tropical. Em cidades como Cambará do Sul, a 180 km de Porto Alegre, é comum que o frio se aproxime de 0ºC ainda no outono, em junho. Os meses de inverno não desapontam quem gosta de ficar tremendo ao ar livre, vendo a paisagem coberta do branco da geada. As longas caminhadas nas trilhas dos cânions aquecem o corpo tanto quanto o chimarrão, a bebida quente que os sulistas sorvem com cuia e bomba.


Dois parques nacionais administrados pelo Instituto Chico Mendes concentram os principais pontos visitados. No Parque Nacional de Aparados da Serra está o cânion mais famoso, o de Itaimbezinho, cujos paredões chegam a 720 metros de altura. Rochas cheias de fendas, aliás: em tupi-guarani, “ita” significa pedra e “aimbé”, cortante. Lá as duas trilhas são fáceis, para qualquer idade ou preparo físico. Crianças fazem o percurso e chegam aos mirantes sem sustos.


No Parque Nacional da Serra Geral, os contornos ondulantes do cânion da Fortaleza deslumbram os turistas com ânimo para uma subida íngreme. A beleza compensa. São vales profundos, como se fossem montanhas com a garganta aberta, numa extensão gigante de 9,5 km. Como em Itaimbezinho, a mata verde se agarra às rochas e as araucárias parecem se equilibrar na beira dos precipícios. Quem vai pela primeira vez aproveita melhor o passeio se contar com um guia, podendo espichar as trilhas até a cachoeira do Tigre Preto e a Pedra do Segredo.


Demarcados há décadas, ambos os parques nacionais continuam com infraestrutura precária, com guaritas que se limitam a registrar o número de visitantes. Há sanitários e bebedouros na sede em Aparados da Serra, e nem isso na Serra Geral.


Para a aventura na terra dos cânions, o conforto se encontra em hotéis e pousadas com lareira e outros mimos como lençóis térmicos e banheiras de hidromassagem. Cambará do Sul tem desde opções para mochileiros e cabanas rústicas de madeira até hospedagens de luxo. No lado catarinense, algumas pousadas de Praia Grande oferecem o privilégio da visão das montanhas já nos quartos, jardins e varandas.


Desde o café da manhã, com doces e salgados múltiplos, as refeições têm comida farta nessa região do Brasil, com receitas que resgatam o pinhão dos antigos indígenas que povoaram a área e o feijão com abóbora dos seus sucessores, os tropeiros. A truta, peixe de águas geladas, substitui a carne bovina em várias ocasiões. Diante do calor da lareira de bares e restaurantes, sopas, fondues e vinhos ganham apelo extra.


Os cânions com centenas de metros de profundidade nasceram da ação do vulcanismo, cerca de 150 milhões de anos atrás. Sucessivos derrames de magma, resfriamentos e solidificações do basalto desenharam um espetáculo da natureza que provoca reações distintas nos que se aproximam. Há quem grite palavrões e quem chore discretamente. Só o medo de cair controla a vontade de sair pulando. O primeiro dos dois parques nacionais surgiu no governo de Juscelino Kubitschek, em 1959, e sua demarcação como área de preservação ambiental interrompeu o desmatamento da floresta nativa de araucárias, misturada à Mata Atlântica.


Majestosa na vida adulta, com 30 metros de altura, a araucária ou pinheiro-do-Paraná é um vegetal dióico: tem pinheiro macho e pinheiro fêmea, fecundada na polinização. As copas produzem as pinhas, cuja semente, o pinhão, é uma iguaria local para o consumo humano e, nas matas, serve de alimento para urubus, gralhas, quatis e capivaras.


Ainda em 1938, um dos primeiros corajosos a sobrevoar o abismo dos cânions foi padre Rambo, nome com que ficou conhecido o pesquisador pioneiro na luta pela criação do parque. Em suas expedições montanha acima e montanha abaixo, padre Rambo arriscou a vida em trilhas como a do Rio do Boi, que hoje são feitas com a segurança de guias, cordas, roupas e calçados apropriados. O rio tem esse nome devido a uma história trágica: a dos bovinos que não enxergavam o precipício, devido à neblina ou à escuridão da noite, e despencavam na rocha.


A trilha radical do rio do Boi dura o dia inteiro, são cerca de 10 km entre as pedras, assim como são necessárias manhã e tarde para as caminhadas que levam aos cânions Churriado e Malacara, ambos com partida no Parque da Serra Geral. Atividades mais tranquilas, de um turno só, incluem as cavalgadas pelas coxilhas das propriedades rurais e ainda o “circuito das águas”, privilegiado com recantos de beleza intensa, como o Lajeado das Margaridas e as cachoeiras do Tio França e dos Venâncios.


Curtir o inverno nas serras gaúcha e catarinense traz experiências como o frio extremo – e a possibilidade de se aconchegar num pelego e vestir, enfim, figurinos exclusivos como o pala de lã, um tipo de sobretudo longo, sem mangas, com abertura única para o pescoço e liberdade total de movimentos. Junto aos cânions, de maio a agosto a visibilidade melhora, sobretudo pela manhã. Mas quem planeja a viagem para o verão aproveita melhor as trilhas nos rios e os banhos de cachoeira.


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